A TERRA, A ROCHA E O MAR

1958-1965

 

1958 -Glauber inicia sua carreira jornalística como repórter de polícia do Jornal da Bahia, onde trabalha ao lado de Inácio de Alencar, Ariovaldo Matos, Paulo Gil Soares, Fernando da Rocha Peres e Calasans Neto. Em seguida, publica artigos sobre cinema e assume a direção do Suplemento Literário. Escreve ainda na página "Artes e Letras", do suplemento dominical do Diário de Notícias, de Salvador, e para o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil (SDJB). Nessa época também se emprega como funcionário público da Prefeitura de Salvador.
Glauber acompanha o diretor italiano Roberto Rossellini em pesquisa de locações em Salvador com uma câmera 16 mm (experiência narrada em “Di”)

• Criação da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Nelson Pereira dos Santos filma “Rio, Zona Norte”. Aparece a Re­vista de Cultura Cinematográfica.

• Em São Paulo, Roberto Santos filma “O Grande Momento”; Walter Hugo Khoury dirige “Estranho Encontro”. No Rio de janeiro estrutura-se a Federação dos Cineclubes.

 

1959-Glauber viaja à São Paulo e participa com Walter da Silveira do Congresso dos Cineclubes e da Bienal de São Paulo (Exposição “Bahia no Ibirapuera” organizada por Lina Bo Bardi com quem dialoga intensamente.
Mostra o copião de “Pátio” a Walter Hugo Khoury e conhece pessoalmente, Paulo Emílio Salles Gomes, Almeida Salles, Rudá de Andrade, Jean-Claude Bernardet e Gustavo Dahl.

Lança “Pátio” em Salvador e promove sessões no Rio. Em 30 de junho, Glauber casa-se em Salvador com Helena Ignez, colega de universidade e atriz de “Pátio”. Ao invés de um carro, presente dos pais pela aprovação no vestibular, Glauber compra uma câmera Arryflex 35 mm "por sessenta contos com tripé e sem zoom".

Após o casamento, começa em Salvador a filmagem de seu segundo curta-metragem, o inacabado, “Cruz na Praça”, baseado num conto de sua autoria, "A Retreta na Praça", publicado no Panorama do conto baiano. 
Publica artigos sobre cinema no Jornal do Brasil e no Diário de Notícias.

 

• Fica obrigatória a exibição de filmes brasileiros 42 dias por ano. “Aruanda”, de Linduarte Noronha, é filmado na Paraíba e “Arraial do Cabo”, de Paulo César Saraceni e Mário Carneiro, no litoral do Rio. “Redenção”, de Roberto Pires, o primeiro longa-metragem baiano é lançado em Salvador. (o diretor inventa uma lente cinemascope). Iniciam-se as filmagens de “Bahia de Todos os Santos”  de Trigueirinho Neto, incentivada por artigos de Glauber Rocha.“Orfeu Negro”, dirigido pelo francês Marcel Camus, filmado no Rio e adaptado de uma peça de Vinícius de Moraes, ganha a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro. Criado o Museu de Arte Moderna da Bahia, sob direção de Lina Bo Bardi. Na América Latina, vitória da Revolução Cubana.

 

1960-Nasce a primeira filha de Glauber, Paloma de Melo e Silva Rocha, em 12 de junho. Glauber trabalha como Produtor Executivo de “A Grande Feira”, longa-metragem de Roberto Pires, produzido por Rex Schindler através da Iglu Filmes, (produtora de Cinejornais) que reúne ainda Braga Neto, Oscar Santana, Helio Moreno e Waldemar Lima que fotografará “Deus e o Diabo”.

Depois de organizar a produção, Glauber refaz o roteiro e assume a direção de “Barravento”, aproveitando alguns diálogos e copiões filmados por Luiz Paulino dos Santos, autor do enredo original. Em carta à Paulo Emílio, Glauber conta como virou diretor inesperadamente de seu primeiro longa-metragem. Começa a corresponder-se com Alfredo Guevara, diretor do Instituto Cubano de Cinema.

• Joaquim Pedro de Andrade realiza o curta-metragem “Couro de Gato”. Carlos Coimbra lança “A Morte comanda o Cangaço”, investindo no filão dos filmes de cangaceiros. Nelson Pereira dos Santos vai para a Bahia rodar “Vidas Secas”, mas, com as chuvas filma “Mandacaru Vermelho”. A equipe hospeda-se na pensão “Bandeira Branca” de Lúcia Rocha.

Inauguração de Brasília. Jean-Paul Sar­tre e Simone de Beauvoir visitam a Bahia e dão conferências em Salvador.

 

1961-Glauber finaliza “Barravento” no Rio de Janeiro, com montagem de Nelson Pereira dos Santos. Recebe a visita na moviola da Líder, do cineasta François Truffaut, interessado em conhecer o cinema novo brasileiro.

 

• O ciclo de cinema baiano é uma realidade com “Bahia de Todos os Santos”, de Trigueirinho Neto, “A Grande Feira”, de Roberto Pires, e “Barravento”, de Glauber. É criado o Geicine (Grupo Executivo da Indústria Cinematográfica). Jânio Quadros deixa a presidência da República e João Goulart assume em meio à crise política.

 

1962• Configura-se o movimento denominado Cinema Novo com a explosão da produção cinematográfica a partir do Rio de Janeiro. “Cinco Vezes Favela” é produzido pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, reunindo cinco curtas de Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade, Cacá Diegues, Miguel Borges e Marcos Farias. Influenciado pela Nouvelle Vague, Ruy Guerra lança “Os Cafajestes” que é censurado.

Primeira viagem de Glauber à Europa. “Barravento” recebe o Prêmio Opera Prima no Festival de Cinema de Karlovy Vary, na então Tchecoslováquia. No mesmo ano, o filme é apresentado no Festival de Sestri Levanti, Itália. Glauber participa também do Festival de Santa Margherita, na Itália.  Produz o curta-metragem “Imagens da Terra e do Povo”, de Orlando Senna.

Em carta para Alfredo Guevara, fala pela primeira vez em realizar “América Nuestra”, um épico sobre a América Latina.

“O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, ganha a Palma de Ouro em Carnes.
Organiza­--se o Conselho Nacional dos Cineclubes.

 

1963-Glauber inicia as filmagens de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” no sertão da Bahia, concluídas em quatro meses.

Publica “Revisão Crítica do Cinema Brasileiro” pela Editora Civilização Brasileira.

Começa a colaborar com a revista Cine Cubano.

O escritor italiano Alberto Moravia faz, no L'Espresso, crítica elogiosa de “Barravento”. (...)  "um dos mais belos filmes que temos visto atualmente". “Barravento” é selecionado para o Festival de Cinema de Londres e incluído entre os dez filmes escolhi­dos para o Festival de Cinema de Nova York, que inaugura o Lincoln Center for the Performing Arts.

• O Cinema Novo ganha visibilidade com três futuros clássicos sobre o Nordeste: “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos, “Deus e o Diabo na Ter­ra do Sol”, de Glauber (lançado em 64), e “Os Fuzis”, de Ruy Guerra. Cerca de trezentos cineclubes participam da reunião nacional em Porto Alegre. No Rio, Carlos Lacerda cria a Comissão de Ajuda à Indústria Cinematográfica (CAIC). Crise na política, com greves, manifestações públicas e comícios reivindicando reformas de base.

 

1964-“Deus e o Diabo na Terra do Sol” concorre à Palma de Ouro no Festival de Cannes. No Brasil, o Golpe de Estado instaura a Ditadura Militar. Glauber vai à Europa. Exibe seu filme no México, viaja pelos Estados Unidos, vai à Nova York e Los Angeles, conhece Hollywood. Recebe o Prêmio da Crítica mexicana no Festival Internacional de Acapulco, o Grande Prêmio do Festival de Cinema Livre, na Itália, e o Náiade de Ouro do Festival Internacional de Porreta Ter­me.
Maurício do Valle, como Antônio das Mortes, recebe o Prêmio Saci de Melhor Ator Coadjuvante dado pelo jornal O Estado de S. Paulo. “Deus e o Diabo” estréia em junho no circuito carioca.

Devido ao sucesso de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Barravento” é  lançado também no mesmo mês no Rio, sendo anunciado como um filme de "violência, sexo, sus­pense e fetichismo", apresentando "a beleza satânica de uma mulher (Luiza Maranhão), no mais excitante nu do cinema!".

 

• João Goulart é deposto pelo golpe militar. O Marechal Castelo Branco é nomeado presidente da República. É criado o SNI (Serviço Nacional de Informação). O Brasil rompe relações com Cuba. O Golpe inter­rompe a produção de “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho. São feitos os documentários “Maioria Absoluta”, de Leon Hirszman, “Integração Racial”, de Paulo César Saraceni, “Meninos do Tietê”, de Maurício Capovilla e os filmes de ficção, “Noite Vazia”, de Walter Hugo Khoury, e “Selva Trágica”, de Roberto Farias.

 

1965 - Glauber lança em janeiro o texto-manifesto "A Estética da Fome", durante a Resenha do Cinema Latino Americano, em Gênova. O texto, escrito no avião entre Los Angeles e Milão, traz as bases estéticas e políticas do Cinema Novo e critica o paternalismo europeu em relação ao Terceiro Mundo.

Glauber, Zelito Viana, Walter Lima Jr., Paulo César Saraceni e Raymundo Wanderley Reis criam a Mapa Filmes.

Glauber co-produz “Menino de Engenho”, de Walter Lima Jr., protagonizado por Anecy Rocha.

Em novembro, é preso num protesto contra o regime militar em frente ao Hotel Glória, no Rio de Janeiro, durante reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos). São presos com Glauber: Joaquim Pedro de Andrade, Mário Carneiro, Flávio Rangel, Antonio Callado, Carlos Heitor Cony, Jaime Rodrigues e Márcio Moreira Alves. A prisão tem repercussão internacional e um telegrama de protesto assinado por Alain Resnais, Truffaut, Godard,Joris Ivens e Abel Gance é enviado ao presidente Castelo Branco.

No final do ano, Glauber viaja para o Amazonas, onde passa o Natal de 1965 e realiza, em Manaus e Parintins, o curta “Amazonas Amazonas”, seu primeiro filme colorido.

A Editora Civilização Brasileira publica “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, com textos e entrevistas de diferentes autores sobre o filme. (capa do Livro)

 

• A política, o cenário urbano e o mundo rural marcam as produções do Cinema Novo. Os autores do Cinema Novo fundam a Difilm, uma cooperativa de distribuição de filmes. É criado o curso de cine­ma da Universidade de Brasília. Acontece o 1° Festival do Filme, no Rio, e o Festival do Curta-Metragem do Jornal do Brasil. Nos EUA, formam-se as primeiras comunidades hippies.

 

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