A TERRA, A ROCHA E O MAR

1981-1989

 1981 -Em janeiro, Glauber organiza, em Paris, uma exibição de “A Idade da Terra” para cerca de cinqüenta pessoas na sala Gaumont-Gare de Lyon. Em fevereiro, viaja para Portugal, onde é recebido pelo cineasta português Manuel Carvalheiro, diretor do documentário “Abecedário”, que inclui longo depoimento de Glauber gravado em Paris. Vai para Sintra, onde se encontra publicamente com o presidente João Batista Figueiredo. Em abril, a Cinemateca Portuguesa exibe uma mostra de seus filmes, interrompi­da por um incêndio que destrói cópias dos filmes.

• Em Sintra, Glauber recebe os amigos Jorge Amado e João Ubaldo, se isola com a família e, em abril, escreve para Cacá Diegues: "Paula e os meninos florescem... Paloma e minha mãe na Bahia... [...] sinto-me mais ou menos em casa, boa cama, boa mesa, bom clima, trans-romantismo...". Nesta carta, refere-se à peça sobre João Goulart: "escrevi a peça “Jango”, deixei os originais com Luiz Carlos Maciel, está ainda incompleta, mas é Teatro e não cinema".

• Em abril, Glauber dá um longo depoimento em vídeo ao ator Patrick Bauchau, que filmava com Wim Wenders em Portugal, identificado:"Sintra é um belo lugar para morrer". Encontra-se com Wim Wenders e Samuel Fuller. Com a saúde abalada há alguns meses, Glauber apresenta como diagnóstico uma pericardite viral. Em carta para Celso Amorim, de abril, descreve: "Aqui tudo mais ou menos. Estou me recuperando da pericardite e escrevendo o roteiro ‘O Império de Napoleão’.
Em carta de 16 de junho para o produtor americano Tom Luddy, Glauber afirma: "Estou escrevendo um novo roteiro: “O Destino da Humanidade”.Vou acabar no dia 20 de agosto".

• A sua saúde piora e, em agosto é internado num hospital próximo a Lisboa por complicações bronco-pulmonares. Em estado de extrema gravidade é trazido de volta ao Brasil na noite do dia 20, sem acompanhamento médico. Chega ao Rio de Janeiro no dia 21 e recebe soro ainda na enfermaria do Aeroporto do Galeão: É levado para a Clínica Bambina, em Botafogo. Morre às 4 horas da manhã do dia 22 de agosto. Glauber é velado no Parque Lage, cenário de “Terra em Transe”, em clima de comoção e exaltação. Em 27 de agosto, a TV Globo exibe “Glauber Rocha-Morto/Vivo”, programa dirigido por Paulo Gil Soares. A TV Bandeirantes exibe, em 29 de agosto, “Glauber na TV”, com trechos do Programa Abertura. Em 31 de agosto, “A Idade da Terra” é relançado no Rio de Janeiro no cinema Rian e em Salvador no Cine Glauber Rocha (ex-Guarany). Em setembro, Luiz Carlos Maciel monta um show no Canecão em homenagem a Glauber, com a participação de atores e artistas. Mostras e retrospectivas de sua obra acontecem no Brasil (Salvador, São Paulo, Brasília) e em vários países. Na Inglaterra, o National Film Insti­tute dá prosseguimento a uma retrospectiva de seus filmes. Outras mostras acontecem na França (Institui National d'Études Cinematographiques) e Estados Unidos (American Film Institute). Em setembro, Glauber é homenageado no Festival Internacional de Figueira da Foz, em Portugal, e no Encuentro de Intelectuales por Ia Soberania de los Pueblos de Nuestra America, em Havana, Cuba. “História do Brasil” é exibido pela primeira vez no Brasil, em dezembro, no Cine Arte UFF, em Niterói.

• A Embrafilme publica no Brasil, “Revolução do Cinema Novo”, coletânea de artigos e entrevistas de Glauber. Na Itália, a editora da RAI publica o roteiro de “O Nascimento dos Deuses”, de Glauber, com desenhos de Paula Gaitán.
Projetos: Em texto inédito (série Produção Intelectual, Acervo Tempo Glauber) o roteiro intitulado "A conquista de Eldorado" (provavelmente escrito em Sintra em 1981). Glauber passa em revista toda sua vida, numa espécie de balanço e roteiro de atividades e viagens realizadas, onde é encontrado o seguinte registro:
Filmes a fazer:        “O destino da humanidade”, “O nascimento dos deuses”, “Os imortais”, “Infinito”, “Ilyada”, e “Odisseya”

• A explosão de uma bomba do Riocentro fere dois militares envolvidos no atentado contra os participantes da festa do 1° de Maio. “Eles não usam Black Tie”, de Leon Hirszman, é premiado no Festival de Veneza, em Havana e outros festivais. São lançados os documentários: “Terceiro Milênio”, de Jorge Bodansky e Wolf Gauer; e “Jânio a 24 Quadros”, de Luiz Alberto Pereira (Gal).

 

1982- Raquel Gerber publica “O Mito da Civilização Atlântica: Glauber Rocha, Cinema, Política e a Estética do Inconsciente” pela Editora Vozes. Pedro del Picchia e Virgínia Murano publicam “Glauber, o Leão de Veneza”, pela editora Escrita, uma entrevista com Glauber sobre a polêmica partici¬pação de “A Idade da Terra” no Festival de Veneza. Jean-Claude Bernardet e Teixeira Coelho lançam "Terra em Transe", "Os herdeiros": espaços e poderes, pela Com-arte.
No primeiro ano da morte de Glauber, ocorrem várias homenagens: em fevereiro, “Barravento” e “A Idade da Terra” são exibidos durante o Festival de Berlim. No Festival Internacional do Curta-Metragem e Documentário, em Lille, França, são exibidos “Pátio”, “Amazonas, Amazonas”, “Maranhão 66”, “Di” e “História do Brasil”. Em março, acontece o Ciclo Glauber Rocha, em Florianópolis. Em agosto, a mostra Tempo Glauber acontece em Salvador. No Centro Cultural São Paulo ocorre uma retrospectiva de seus filmes. No Rio, é feita a Mostra Glauber Presente, no Colégio Jacobina, organizada pelos alunos da Universidade Federal Fluminense e RioArte. No dia 22 de agosto, a Tv Bandeirantes exibe um especial sobre Glauber dirigido por Paula Gaitán. É exibido, no dia 23 de agosto, no Cinema Veneza, o curta-metragem “Abecedário”, sobre Glauber, dirigido pelo português Manuel Carvalheiro. Também no dia 23, o programa Noites cariocas, da Tv Re¬cord, promove uma mesa-redonda sobre o cineasta. Em setembro, uma retrospectiva de seus filmes acontece no Centro de Estudos Cinematográficos de Belo Horizonte, e Glauber é homenageado pelo Tuca (Teatro da Universidade Católica), em São Paulo.

1983-No Carnaval carioca, Glauber é homenageado pela Escola de Samba Lins Imperial com o samba-enredo "Glauber Presente". É lançado “O Século do Cinema”, coletânea de artigos de Glauber sobre o cinema americano, o neo-realismo e a Nouvelle Vague, pela Editora Alhambra. Ismail Xavier lança “Sertão Mar: Glauber Rocha e a Estética da Fome”, pela Editora Brasiliense. Em 28 de agosto, a Tv Bandeirantes exibe o filme “Di”. Em Recife acontece a mostra Passem Glauber, no Teatro do Par¬que. Em dezembro, o acervo da obra de Glauber Rocha, reunido por sua mãe, Lúcia Rocha, ganha uma sala no Museu da Imagem e do Som do Rio de janeiro. O acervo recebe o nome de Tempo Glauber.

1984- “Câncer” é exibido pela primeira vez, no dia 22 de agosto, no Rio de Janeiro, na Universidade Santa Úrsula, em sessão especial promovida pela Embrafilme e pelos amigos de Glauber. Randal Johnson publica “Cinema Novo X 5”, estudo sobre cinco diretores do Cinema Novo, incluindo Glauber.

1985- “Roteiros do Terceyro Mundo”, livro projetado por Glauber com os roteiros e diálogos de seus longas-metragens, é publicado pela Embrafilme/ Alhambra, organizado pelo cineasta Orlando Senna. Em março acontece no Cine São Luiz 1, no Rio de Janeiro, a Mostra Glauber por Glauber, a primeira retrospectiva completa dos seus filmes, exibida em onze estados brasileiros.


1986 - O Festival de Veneza faz uma homenagem especial a Glauber Rocha com uma retrospectiva completa de seus filmes. O crítico Lino Micci¬chè organiza, na Itália, os livros “Scritti sul cinema” e “Rocha: saggi & in¬vective sul Nuovo Cinema”. Em agosto, é inaugurada em São Paulo a Mostra Tempo Glauber, promovida pelo SESC, que percorreria vinte es¬tados do país e pequenas cidades, inclusive Rio Branco, no Acre, aonde chegou em outubro de 1989. É publicado “O ideário de Glauber Rocha”, de Sidney Rezende, pela Editora Philobiblion, com citações de entre¬vistas e artigos de Glauber na imprensa. Roque Araújo, colaborador de Glauber, realiza “No Tempo de Glauber”, uma montagem de seqüências ("sobras") não incluídas em “A Idade da Terra”, com trechos das polêmicas filmagens de Glauber em Salvador.


1987-A crítica francesa Sylvie Pierre publica, na França, Glauber Rocha, na coleção Auteurs, da Cahiers du Cinéma. É publicado "Barravento, a estréia de Glauber”, de José Gatti, da Editora da Universidade de Santa Catarina.


1989 -É organizado o livro “Poemas Eskolhydos” de Glauber Rocha, seleção de 28 poemas de Glauber escritos entre 1965 e 1981, pela Editora Alhambra. O livro não é lançado comercialmente. É realizado “O Homem dos Cabelos Azuis”, documentário de Sylvie Pierre e Georges Ullman sobre a relação de Glauber com a crítica européia. No dia 22 de março é inaugurado o Tempo Glauber, acervo com cerca de 60 mil documentos, entre filmes, correspondências, escritos, publicações, poesias, desenhos e entrevistas de Glauber, dirigido por Lúcia Rocha, na Rua Sorocaba, em Botafogo.
 

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